De fato, Gaudí é mundialmente reconhecido por sua originalidade formal, por sua característica de artesão individualista, que lhe permitiu traduzir desde influências históricas espanholas até as mais novas características da Art Nouveau em arquiteturas jamais vistas.
Seja nas torres da Sagrada Família ou nos bancos curvos do Parque Güell, nos portões de ferro da Casa Vicens ou nas curvas da fachada da Casa Milá, Gaudí fez uma arquitetura plenamente visual cuja verdadeira estrutura é a estrutura da imagem, contrapondo sua versão mediterrânea e católica à versão centro-européia da Art Nouveau.
Nascido na região da Catalunha, viveu em Barcelona na época em que a cidade se desenvolvia industrialmente, num ambiente de valorização cultural muito forte exaltado pelo movimento Renaixença. Foi nesse ambiente que se rompeu o marasmo artístico do final do século XIX, e os primeiros passos do Modernisme se deram em 1880, com a Casa Vicens, de Gaudí.
“Esta casa, como a maior parte da obra gaudiniana, delatava a influência de Violet-le-Duc, onde os elementos constituintes de um estilo nacional eram considerados como submetidos aos princípios do racionalismo estrutural. Na Casa Vicens, Gaudí formulou pela primeira vez a essência de seu estilo, que embora gótico em princípio estrutural, era mediterrâneo, para não dizer islâmico, em boa parte da sua inspiração (...) Como escreveu Ary Leblond em 1910, Gaudí buscava ‘um gótico que estivesse saturado de luz solar, relacionado estruturalmente com as grandes catedrais catalãs, no qual se empregasse cor tal como fizeram os gregos e mouros, lógico para Espanha, um gótico meio marítimo e meio continental, realçado por uma riqueza panteísta.” (FRAMPTON, Kenneth. p. 65)
"Não se imagine, porém, que inovação e criatividade podiam fazer com que Gaudí negasse, ou mesmo se afastasse dos valores e tradições da cultura catalã (...) Reflete o Mediterrâneo como local de confluência de culturas muito diversas e, sobretudo Barcelona, como seu centro de referência nos últimos séculos. Principalmente em suas primeiras obras, verifica-se o intenso uso de azulejos e gelosias (muxarabis), de tetos muito elaborados, de varandas e diversos outros elementos presentes nas obras dos quase oito séculos de ocupação árabe da Península Ibérica, mesmo sendo essa influência bem mais sensível na Andaluzia que na Catalunha." (ROCHA, Ari Antônio)
segunda-feira, 13 de outubro de 2008
Espanha e Catalunha
História da Espanha
A Península Ibérica, até cerca de 200 a.C., era ocupada basicamente pelos povos íberos e celtas, segundo dados históricos dos gregos, que chegaram a habitar a atual área da Catalunha.
No século III a.C., o povo de Cartago, antiga cidade do norte da África, em disputa com Roma pelo controle do Mar Mediterrâneo, invadiu a península e fundou a cidade de Cartagena. A rivalidade entre cartagineses e romanos culminou nas três Guerras Púnicas, nas quais Roma impôs o seu poder e dominou o território. Tem-se então o início da ocupação romana, época em que surgiu o termo Hispania para designar a então Península Ibérica.
A incorporação da língua, dos costumes e da economia romana se estendeu até meados do século III da era cristã, quando o Império Romano começou a ruir. Finalmente, em 476, com a invasão dos povos bárbaros, o império ocidental caiu.
Os Visigodos mantiveram o domínio sobre os outros povos bárbaros e expulsaram-nos da Hispania. Mantiveram as instituições e leis romanas, instituindo o Catolicismo como religião oficial.
Em 711, tropas muçulmanas atravessaram o Estreito de Gibraltar e estenderam suas conquistas pela Península Ibérica. Os mouros, ou mouriscos, como eram chamados, mantiveram seu domínio por muito tempo, e deixaram marcas profundas na arquitetura e nas artes da Espanha.
O Islamismo em 750d.C.
A resistência cristã travou muitas batalhas contra os mouros, e a reconquista foi finalizada em 1492, com a unificação da monarquia espanhola com o casamento dos reis Isabel I de Castela e Fernando II de Aragão.
Catalunha e Barcelona
Nos séculos XVI e XVII, a Catalunha viveu um período de decadência. Os catalães envolveram-se num conflito, a Guerra dos Segadores, de 1640 até 1652, contra o domínio hispânico do rei Felipe IV, e posteriormente, na Guerra de Sucessão Espanhola, que terminou com a abolição das leis institucionais próprias da Catalunha.
Até o fim do século XVIII, Barcelona iniciou uma recuperação econômica que lhe favoreceu a industrialização progressiva do século seguinte. A segunda metade do século XIX coincidiu com o projeto de derrube das muralhas antigas que envolviam a cidade e outras cidades próximas são incorporadas à Barcelona. Isso permitiu que a cidade executasse o Plano de Expansão (Ensanche) e o projeto de desenvolvimento da indústria, feito que lhe permitiu entrar no século XX como um dos centros urbanos mais avançados de Espanha.
Além disso, surgiu no século XIX o movimento Renaixença, que defendia a autonomia catalã, inclusive o reconhecimento de sua língua própria, o catalão.
No século XX, a Espanha viveu sob a ditadura de Francisco Franco de 1939 até 1975, ano de sua morte. Passou então por um processo de redemocratização e ganhou uma nova constituição, a qual dividiu o país em 17 comunidades autônomas com base nas nacionalidades que cada região possuía. Assim, a Catalunha foi finalmente reconhecida como nação autônoma, respeitando suas particularidades culturais.
mapas das comunidades autônomas da Espanha
A Península Ibérica, até cerca de 200 a.C., era ocupada basicamente pelos povos íberos e celtas, segundo dados históricos dos gregos, que chegaram a habitar a atual área da Catalunha.
No século III a.C., o povo de Cartago, antiga cidade do norte da África, em disputa com Roma pelo controle do Mar Mediterrâneo, invadiu a península e fundou a cidade de Cartagena. A rivalidade entre cartagineses e romanos culminou nas três Guerras Púnicas, nas quais Roma impôs o seu poder e dominou o território. Tem-se então o início da ocupação romana, época em que surgiu o termo Hispania para designar a então Península Ibérica.
A incorporação da língua, dos costumes e da economia romana se estendeu até meados do século III da era cristã, quando o Império Romano começou a ruir. Finalmente, em 476, com a invasão dos povos bárbaros, o império ocidental caiu.
Os Visigodos mantiveram o domínio sobre os outros povos bárbaros e expulsaram-nos da Hispania. Mantiveram as instituições e leis romanas, instituindo o Catolicismo como religião oficial.
Em 711, tropas muçulmanas atravessaram o Estreito de Gibraltar e estenderam suas conquistas pela Península Ibérica. Os mouros, ou mouriscos, como eram chamados, mantiveram seu domínio por muito tempo, e deixaram marcas profundas na arquitetura e nas artes da Espanha.
O Islamismo em 750d.C.
A resistência cristã travou muitas batalhas contra os mouros, e a reconquista foi finalizada em 1492, com a unificação da monarquia espanhola com o casamento dos reis Isabel I de Castela e Fernando II de Aragão.
Catalunha e Barcelona
Nos séculos XVI e XVII, a Catalunha viveu um período de decadência. Os catalães envolveram-se num conflito, a Guerra dos Segadores, de 1640 até 1652, contra o domínio hispânico do rei Felipe IV, e posteriormente, na Guerra de Sucessão Espanhola, que terminou com a abolição das leis institucionais próprias da Catalunha.
Até o fim do século XVIII, Barcelona iniciou uma recuperação econômica que lhe favoreceu a industrialização progressiva do século seguinte. A segunda metade do século XIX coincidiu com o projeto de derrube das muralhas antigas que envolviam a cidade e outras cidades próximas são incorporadas à Barcelona. Isso permitiu que a cidade executasse o Plano de Expansão (Ensanche) e o projeto de desenvolvimento da indústria, feito que lhe permitiu entrar no século XX como um dos centros urbanos mais avançados de Espanha.
Além disso, surgiu no século XIX o movimento Renaixença, que defendia a autonomia catalã, inclusive o reconhecimento de sua língua própria, o catalão.
No século XX, a Espanha viveu sob a ditadura de Francisco Franco de 1939 até 1975, ano de sua morte. Passou então por um processo de redemocratização e ganhou uma nova constituição, a qual dividiu o país em 17 comunidades autônomas com base nas nacionalidades que cada região possuía. Assim, a Catalunha foi finalmente reconhecida como nação autônoma, respeitando suas particularidades culturais.
mapas das comunidades autônomas da Espanha
Antoni Gaudí
No fim do século XIX, Barcelona vivenciou um período de grande desenvolvimento econômico; era a única cidade espanhola na qual havia um princípio de desenvolvimento industrial. Essa situação favoreceu a geração de uma grande quantidade de pessoas migrando para a cidade em busca de trabalho e também possibilitou a formação de uma burguesia dinâmica, ligada à indústria e ao comércio, que procurava manifestar sua diferença em relação àquela burguesia central alienada pela tradição. A oposição ao centralismo espanhol também se deu com o Renaixença, um movimento catalão que reinvidicava sua autonomia política. Esses fatores econômicos, sociais, políticos e culturais permitiram então o advento do Modernismo na Catalunha (observação para o termo Modernismo usado na Espanha, sendo a nomenclatura usada para se designar à Art Nouveau, assim como também recebeu outras traduções na Alemanha – Jugendstil, e na Áustria – Secessão).
“Foi na Catalunha onde se rompeu o marasmo artístico, e ele não aconteceu casualmente. Essa ruptura, que recebeu o nome de Modernismo, está ligada ao novo ambiente social e cultural criado pela evolução econômica, os problemas políticos e regionais. (...) um movimento cultural que não se limitava às artes plásticas tradicionais, mas que se estendia também às chamadas artes decorativas, (...) que estava ligado a idéias sociais e filosóficas concretas e que ofereceu, dentro de uma base comum, diversidade de facetas e matizes.” (BOZAL, Valeriano. p. 21)
Nesse contexto nasceu Antoni Gaudí, um dos grandes nomes do movimento moderno da Catalunha. Formou-se arquiteto em 1878, e desde cedo buscou conhecimento na história de sua região. Sua construção regional também foi influência de Viollet-le-Duc, o qual defendia o uso de elementos construtivos do estilo nacional como decorrentes dos princípios do racionalismo estrutural.
“Apesar do forte crescimento econômico na região, registrava-se uma perda de influência política da Catalunha, que tinha um passado glorioso de que podia orgulhar-se. Sob o domínio dos Romanos, o país tinha se tornado um centro comercial importante, e, em 343, Barcelona passou a sede episcopal. Durando a Idade Média, era um condado independente com legislação e línguas próprias. Nos tempos modernos, a região perdia cada vez mais a sua independência. No início do século XIX, foi mesmo proibido uso da língua catalã nas escolas. A descoberta do gótico, nas últimas décadas do século XIX, era mais do que uma preocupação artística para os catalães: transformou-se num sinal político. Também Gaudí se juntou ao movimento nacionalista. (...) Gaudí fez-se membro do Centre Excursionista, um grupo de jovens que faziam peregrinações aos locais históricos do passado glorioso. Gaudí sentia-se catalão até a medula dos ossos. Foi nessas excursões que alargou seus conhecimentos sobre as grandes construções da sua terra natal. Nestas incluíam-se, além das grandes catedrais góticas (...) principalmente as construções dos Mouros, testemunhos do passado árabe na Espanha. Também nesse aspecto, não estava só; havia um grande número de pessoas interessadas nesse passado. Uma vez mais, bastante atrasada em relação ao resto da Europa, espalhava-se na Espanha o entusiasmo pelo exótico.” (ZERBST, Rainer. p. 17-18)
Além de Viollet-le-Duc, Gaudí abraçava também as influências de Ruskin. “O ornamento é a origem da arquitetura”, assim proclamava Ruskin em 1853. Três décadas mais tarde, seria Gaudí quem, de maneira semelhante, iria defender o ornamento, com todo o fervor que o caracterizava.
Suas obras começadas após 1900 demonstram mais as características da Art Nouveau, com formas assimétricas, curvas, derivadas da natureza, de produção única. Porém, suas primeiras obras, e logo a própria Casa Vicens, estão mais ligadas ao gótico.
“Situar Gaudí no Art Nouveau é relativamente fácil, se nos limitarmos ao seu trabalho posterior a 1903. Mas três anos antes ele iniciou o Parque Güell e cinco anos antes a Capela de Santa Coloma de Cervelló. Na capela não há linhas onduladas; tudo é agudo, anguloso e agressivo (...) Se procurarmos fazer comparações, devemos nos lembrar mais do expressionismo alemão dos anos 20 – nos sonhos fantásticos do Doutor Caligari – do que da Art Nouveau.” (PEVSNER, Nikolaus. p. 104)
A Casa Vicens, de 1883, é portanto uma obra que não exprime toda a genialidade de Gaudí, o qual ao longo de sua vida foi capaz de realizar com primazia outras grandes obras, com outras influências, como as casas Batló e Milá, o Parque Güell e a Sagrada Família, por exemplo. Entretanto, ela reúne características muito importantes que permitem analisar como o passado histórico da Espanha e como a cultura catalã foram fatores determinantes não só nos processos políticos no final do século XIX em Barcelona, mas também no processo artístico e social. Gaudí reflete nesse momento não apenas a questão nacionalista defendida por Viollet-le-Duc, buscando inspiração no gótico e na cultura mourisca, mas também a questão social e cultural da Catalunha, que buscava fervorosamente o seu reconhecimento como nação.
Casa Vicens
Manuel Vicens i Montaner, proprietário de uma fábrica de tijolos, encomendou uma casa a Gaudí em 1878. Em 1883 começaram os trabalhos de construção na Rua les Carolines, em Barcelona.
figura 1: Casa Vicens: Rua Les Carolines, Barcelona
Nesta obra, Gaudí combinou pedras não trabalhadas, assim como vinham das pedreiras, com azulejos, que provocam um efeito ornamental. É a união entre a tradição burguesa espanhola e a tradição árabe secular, refletindo o estilo mudejar após sete séculos de presença dos mouros em território espanhol (o mudejar é uma espécie de mistura entre a arquitetura espanhola e mourisca).
"A influência mourisca é bem patente. Pequenas torres que fazem lembrar os minaretes das mesquitas foram aplicadas no telhado. Os motivos finos, típicos dos azulejos, dão a impressão dos motivos de filigrana das construções mouriscas. No interior do edifício, repete-se a impressão ornamental das paredes cobertas de azulejos, sem imitar a arquitetura mourisca. Gaudí apenas se deixou inspirar e criou seus próprios ornamentos.” (ZERBST, Rainer. p. 22)
figura 2: Casa Vicens
figura 3: A arquitetura árabe: miranete da mesquita de Hassan II, no Marrocos (à esquerda) e mosaico de azulejos do Palácio de Alhambra, em Granada, na Espanha; reflexo da cultura nasrida - última dinastia muçulmana na Península Ibérica (à direita)
figura 4: Corte
No piso semi-subterrâneo, se encontravam originalmente as dependências do serviço.
O rés-do-chão por cima do nível de entrada contém uma sala de jantar rodeada por uma galeria coberta, uma sala de fumo e um salão com as escadas que levam ao piso superior, onde se encontram os quartos de dormir. Na parte superior encontra-se um último piso em forma de desvão.
figura 5: planta do piso dos dormitórios
figuras 6 e 7: sala de jantar
figura 8: decoração interior com motivos relacionados à natureza e mosaicos
“No interior do edifício, repete-se a impressão ornamental das paredes cobertas de azulejos, sem imitar a arquitetura mourisca. Gaudí apenas se deixou inspirar e criou seus próprios ornamentos. Os motivos finos, típicos dos azulejos, dão a impressão dos motivos de filigrana das construções mouriscas. (...) Com a introdução dos azulejos, Gaudí deu origem a uma verdadeira onda de nova moda na Catalunha, e Vicens foi, assim, bem compensado durante os anos seguintes, pois fabricava grandes quantidades destes azulejos.” (ZERBST, Rainer. p. 22)
figuras 9 e 10: sala de fumo
Aqui há destaque também para o uso dos azulejos e para a cobertura em abóbada tabicada.
“O resultado na Casa Vicens foi um pastiche mudejar planificado ao redor de uma estufa, que nas suas franjas de ladrilhos, seus azulejos e seus ferros forjados decorativos era mais exuberante que qualquer outra casa da mesma época. Entretanto, a estrutura transcendia sua expressão exótica pois essa era a primeira ocasião que Gaudí utilizava a tradicional abóbada catalã ou del Rosellón, nas quais as formas arqueadas se conseguem mediante a superposição de camadas de peças cerâmicas.” (FRAMPTON, Kenneth. p. 65)
figura 11: Casa Vicens
figura 12: torre lateral
figura 13: detalhe da torre
figura 14: vista panorâmica da fachada da Rua les Carolines
figuras 15, 16 e 17: janelas com grades de ferro
figuras 18, 19 e 20: grade de ferro batido com motivos de folhas de palmeira
A facilidade de entortar o ferro batido fez dele um material muito importante na Art Nouveau, já que os artistas buscavam formas naturais, curvas, muitas vezes delicadas. “A Art Nouveau adorava a leveza, a sutileza, a transparência e, naturalemente, a sinuosidade. O ferro significava peças finas e ductilidade.” (PEVSNER, Nikolaus. p. 94) Além de Gaudí crescer vendo o pai trabalhar com cobre, pode ter recebido também inspiração de Viollet-le-Duc, que anunciava o ferro não somente como possibilidade decorativa, mas também estrutural.
figuras 21 e 22: porta de entrada da casa
“A decoração com mosaicos cheia de constrates, sobretudo, nos cantos e nas torres do edifício, faz lembrar a arquitetura mourisca, no entanto, ela é fruto da imaginação criadora de Gaudí. Esta é uma das primeiras “obras mouriscas” de Gaudí, que mostra já a maneira original como ele tratava os modelos históricos.” (ZERBST, Rainer. p. 23)
figura 1: Casa Vicens: Rua Les Carolines, Barcelona
Nesta obra, Gaudí combinou pedras não trabalhadas, assim como vinham das pedreiras, com azulejos, que provocam um efeito ornamental. É a união entre a tradição burguesa espanhola e a tradição árabe secular, refletindo o estilo mudejar após sete séculos de presença dos mouros em território espanhol (o mudejar é uma espécie de mistura entre a arquitetura espanhola e mourisca).
"A influência mourisca é bem patente. Pequenas torres que fazem lembrar os minaretes das mesquitas foram aplicadas no telhado. Os motivos finos, típicos dos azulejos, dão a impressão dos motivos de filigrana das construções mouriscas. No interior do edifício, repete-se a impressão ornamental das paredes cobertas de azulejos, sem imitar a arquitetura mourisca. Gaudí apenas se deixou inspirar e criou seus próprios ornamentos.” (ZERBST, Rainer. p. 22)
figura 2: Casa Vicens
figura 3: A arquitetura árabe: miranete da mesquita de Hassan II, no Marrocos (à esquerda) e mosaico de azulejos do Palácio de Alhambra, em Granada, na Espanha; reflexo da cultura nasrida - última dinastia muçulmana na Península Ibérica (à direita)
figura 4: Corte
No piso semi-subterrâneo, se encontravam originalmente as dependências do serviço.
O rés-do-chão por cima do nível de entrada contém uma sala de jantar rodeada por uma galeria coberta, uma sala de fumo e um salão com as escadas que levam ao piso superior, onde se encontram os quartos de dormir. Na parte superior encontra-se um último piso em forma de desvão.
figura 5: planta do piso dos dormitórios
figuras 6 e 7: sala de jantar
figura 8: decoração interior com motivos relacionados à natureza e mosaicos
“No interior do edifício, repete-se a impressão ornamental das paredes cobertas de azulejos, sem imitar a arquitetura mourisca. Gaudí apenas se deixou inspirar e criou seus próprios ornamentos. Os motivos finos, típicos dos azulejos, dão a impressão dos motivos de filigrana das construções mouriscas. (...) Com a introdução dos azulejos, Gaudí deu origem a uma verdadeira onda de nova moda na Catalunha, e Vicens foi, assim, bem compensado durante os anos seguintes, pois fabricava grandes quantidades destes azulejos.” (ZERBST, Rainer. p. 22)
figuras 9 e 10: sala de fumo
Aqui há destaque também para o uso dos azulejos e para a cobertura em abóbada tabicada.
“O resultado na Casa Vicens foi um pastiche mudejar planificado ao redor de uma estufa, que nas suas franjas de ladrilhos, seus azulejos e seus ferros forjados decorativos era mais exuberante que qualquer outra casa da mesma época. Entretanto, a estrutura transcendia sua expressão exótica pois essa era a primeira ocasião que Gaudí utilizava a tradicional abóbada catalã ou del Rosellón, nas quais as formas arqueadas se conseguem mediante a superposição de camadas de peças cerâmicas.” (FRAMPTON, Kenneth. p. 65)
figura 11: Casa Vicens
figura 12: torre lateral
figura 13: detalhe da torre
figura 14: vista panorâmica da fachada da Rua les Carolines
figuras 15, 16 e 17: janelas com grades de ferro
figuras 18, 19 e 20: grade de ferro batido com motivos de folhas de palmeira
A facilidade de entortar o ferro batido fez dele um material muito importante na Art Nouveau, já que os artistas buscavam formas naturais, curvas, muitas vezes delicadas. “A Art Nouveau adorava a leveza, a sutileza, a transparência e, naturalemente, a sinuosidade. O ferro significava peças finas e ductilidade.” (PEVSNER, Nikolaus. p. 94) Além de Gaudí crescer vendo o pai trabalhar com cobre, pode ter recebido também inspiração de Viollet-le-Duc, que anunciava o ferro não somente como possibilidade decorativa, mas também estrutural.
figuras 21 e 22: porta de entrada da casa
“A decoração com mosaicos cheia de constrates, sobretudo, nos cantos e nas torres do edifício, faz lembrar a arquitetura mourisca, no entanto, ela é fruto da imaginação criadora de Gaudí. Esta é uma das primeiras “obras mouriscas” de Gaudí, que mostra já a maneira original como ele tratava os modelos históricos.” (ZERBST, Rainer. p. 23)
Outras obras
El Capricho
A Casa Vicens foi a primeira obra de certa envergadura construída por Gaudí, mas simultaneamente ele desenhou também a casa El Capricho, em Santander (nordeste da Espanha). Por isso, essa obra responde à mesma influência estilística de raíz árabe.
O acesso situado numa das esquinas da casa está claramente identificado mediante uma torre de tijolo, revestida de cerâmica vidrada, que funciona como um mirante na parte superior e como um pórtico na parte baixa. Além dela, a cobertura ainda apresenta pequenas torres, assim como há na Casa Vicens.
A decoração externa também traz semelhanças no uso de azulejos e cerâmica, com flores de girassol e folhas verdes em relevo.
Palácio Güell e Parque Güell
Um grande colaborador de Gaudí foi o conde Eusebio Güell, que como um mecenas, incentivava o trabalho do arquiteto. Para ele, Gaudí fez o Palácio Güell, em 1888, e o Parque Güell, em 1900.
No parque, Gaudí usou pela primeira vez o trencadis, um tipo de mosaico feito a partir de azulejos quebrados.
Sagrada Família - 1883
Casa "Botines" - 1891
Casa Calvet - 1898
Bellesguard - 1901
Casa Batló - 1904
Casa Milà - 1906
A Casa Vicens foi a primeira obra de certa envergadura construída por Gaudí, mas simultaneamente ele desenhou também a casa El Capricho, em Santander (nordeste da Espanha). Por isso, essa obra responde à mesma influência estilística de raíz árabe.
O acesso situado numa das esquinas da casa está claramente identificado mediante uma torre de tijolo, revestida de cerâmica vidrada, que funciona como um mirante na parte superior e como um pórtico na parte baixa. Além dela, a cobertura ainda apresenta pequenas torres, assim como há na Casa Vicens.
A decoração externa também traz semelhanças no uso de azulejos e cerâmica, com flores de girassol e folhas verdes em relevo.
Palácio Güell e Parque Güell
Um grande colaborador de Gaudí foi o conde Eusebio Güell, que como um mecenas, incentivava o trabalho do arquiteto. Para ele, Gaudí fez o Palácio Güell, em 1888, e o Parque Güell, em 1900.
No parque, Gaudí usou pela primeira vez o trencadis, um tipo de mosaico feito a partir de azulejos quebrados.
Sagrada Família - 1883
Casa "Botines" - 1891
Casa Calvet - 1898
Bellesguard - 1901
Casa Batló - 1904
Casa Milà - 1906
Referências
Referências
ARGAN, Giulio Carlo. El Arte Moderno 1770-1970. Valencia, Fernando Torres Editor, 1984.
BOZAL, Valeriano. Historia del Arte en Espana: desde Goya hasta nuestros días. Madrid, Istmo, 1978.
FRAMPTON, Kenneth. História Crítica de la Arquitectura Moderna. Barcelona, Gustavo Gilli, 1987.
PEVSNER, Nikolaus. Origens da arquitetura moderna e do design. São Paulo, Martins Fontes, 1981.
VINCENT, Mary. Espanha e Portugal: história e cultura da península ibérica. Madrid, Del Prado, 1997.
Antoni Gaudí: 150 anos de arquitetura inovadora - http://www.vitruvius.com.br/arquitextos/arq000/esp149.asp
ARGAN, Giulio Carlo. El Arte Moderno 1770-1970. Valencia, Fernando Torres Editor, 1984.
BOZAL, Valeriano. Historia del Arte en Espana: desde Goya hasta nuestros días. Madrid, Istmo, 1978.
FRAMPTON, Kenneth. História Crítica de la Arquitectura Moderna. Barcelona, Gustavo Gilli, 1987.
PEVSNER, Nikolaus. Origens da arquitetura moderna e do design. São Paulo, Martins Fontes, 1981.
VINCENT, Mary. Espanha e Portugal: história e cultura da península ibérica. Madrid, Del Prado, 1997.
Antoni Gaudí: 150 anos de arquitetura inovadora - http://www.vitruvius.com.br/arquitextos/arq000/esp149.asp
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