Manuel Vicens i Montaner, proprietário de uma fábrica de tijolos, encomendou uma casa a Gaudí em 1878. Em 1883 começaram os trabalhos de construção na Rua les Carolines, em Barcelona.
figura 1: Casa Vicens: Rua Les Carolines, Barcelona
Nesta obra, Gaudí combinou pedras não trabalhadas, assim como vinham das pedreiras, com azulejos, que provocam um efeito ornamental. É a união entre a tradição burguesa espanhola e a tradição árabe secular, refletindo o estilo mudejar após sete séculos de presença dos mouros em território espanhol (o mudejar é uma espécie de mistura entre a arquitetura espanhola e mourisca).
"A influência mourisca é bem patente. Pequenas torres que fazem lembrar os minaretes das mesquitas foram aplicadas no telhado. Os motivos finos, típicos dos azulejos, dão a impressão dos motivos de filigrana das construções mouriscas. No interior do edifício, repete-se a impressão ornamental das paredes cobertas de azulejos, sem imitar a arquitetura mourisca. Gaudí apenas se deixou inspirar e criou seus próprios ornamentos.” (ZERBST, Rainer. p. 22)
figura 2: Casa Vicens
figura 3: A arquitetura árabe: miranete da mesquita de Hassan II, no Marrocos (à esquerda) e mosaico de azulejos do Palácio de Alhambra, em Granada, na Espanha; reflexo da cultura nasrida - última dinastia muçulmana na Península Ibérica (à direita)
figura 4: Corte
No piso semi-subterrâneo, se encontravam originalmente as dependências do serviço.
O rés-do-chão por cima do nível de entrada contém uma sala de jantar rodeada por uma galeria coberta, uma sala de fumo e um salão com as escadas que levam ao piso superior, onde se encontram os quartos de dormir. Na parte superior encontra-se um último piso em forma de desvão.
figura 5: planta do piso dos dormitórios
figuras 6 e 7: sala de jantar
figura 8: decoração interior com motivos relacionados à natureza e mosaicos
“No interior do edifício, repete-se a impressão ornamental das paredes cobertas de azulejos, sem imitar a arquitetura mourisca. Gaudí apenas se deixou inspirar e criou seus próprios ornamentos. Os motivos finos, típicos dos azulejos, dão a impressão dos motivos de filigrana das construções mouriscas. (...) Com a introdução dos azulejos, Gaudí deu origem a uma verdadeira onda de nova moda na Catalunha, e Vicens foi, assim, bem compensado durante os anos seguintes, pois fabricava grandes quantidades destes azulejos.” (ZERBST, Rainer. p. 22)
figuras 9 e 10: sala de fumo
Aqui há destaque também para o uso dos azulejos e para a cobertura em abóbada tabicada.
“O resultado na Casa Vicens foi um pastiche mudejar planificado ao redor de uma estufa, que nas suas franjas de ladrilhos, seus azulejos e seus ferros forjados decorativos era mais exuberante que qualquer outra casa da mesma época. Entretanto, a estrutura transcendia sua expressão exótica pois essa era a primeira ocasião que Gaudí utilizava a tradicional abóbada catalã ou del Rosellón, nas quais as formas arqueadas se conseguem mediante a superposição de camadas de peças cerâmicas.” (FRAMPTON, Kenneth. p. 65)
figura 11: Casa Vicens
figura 12: torre lateral
figura 13: detalhe da torre
figura 14: vista panorâmica da fachada da Rua les Carolines
figuras 15, 16 e 17: janelas com grades de ferro
figuras 18, 19 e 20: grade de ferro batido com motivos de folhas de palmeira
A facilidade de entortar o ferro batido fez dele um material muito importante na Art Nouveau, já que os artistas buscavam formas naturais, curvas, muitas vezes delicadas. “A Art Nouveau adorava a leveza, a sutileza, a transparência e, naturalemente, a sinuosidade. O ferro significava peças finas e ductilidade.” (PEVSNER, Nikolaus. p. 94) Além de Gaudí crescer vendo o pai trabalhar com cobre, pode ter recebido também inspiração de Viollet-le-Duc, que anunciava o ferro não somente como possibilidade decorativa, mas também estrutural.
figuras 21 e 22: porta de entrada da casa
“A decoração com mosaicos cheia de constrates, sobretudo, nos cantos e nas torres do edifício, faz lembrar a arquitetura mourisca, no entanto, ela é fruto da imaginação criadora de Gaudí. Esta é uma das primeiras “obras mouriscas” de Gaudí, que mostra já a maneira original como ele tratava os modelos históricos.” (ZERBST, Rainer. p. 23)
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário